terça-feira, 17 de agosto de 2010

Ser Urbano

URBANO CANIBAL (Fernanda Abreu / Lenine)

Sou urbano canibal
feito de carne e açosemente e bagaço
plantado no asfalto
no meio de tudo

Sou urbano canibal
pele couro de cobra
olhos duros de vidro
corpo todo partido
tudo breu, tudo escuro

Sou urbano canibal
sou do bem, sou do mal
sou excesso total
selvagem racional
eu tô pixado no muro

Sou Peri da Periferia
Sou Ceci do Borel
Sou da Selva de Pedra
Sou do Arranha-Céu
Sou Babel

Sou urbano canibal
Eu devoro, eu mastigo
esse corpo cidade
de vaga identidade
me tornando o que sou
Sou urbano canibal

sou o samba no morro
sou a bala perdida
a voz da torcida
a trave e o gol

Sou urbano canibal
esse é meu alimento
becos, ruas, esquinas
carros, pontes, vitrines
sou geléia geral


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